sexta-feira, 23 de março de 2012

É tão bom ter o retorno dos leitores sobre o conjunto do trabalho de edição...

O trabalho de edição de um livro apresenta riquezas muito além da superfície. Afinal, ali não comporta somente um texto. Num bom projeto, conta-se a história também com suas ilustrações e até com os recursos gráficos possíveis e impossíveis. Obrigado à Manati (Bia Hetzel e Silvia Negreiros) e à Mariana Massarani por imprimirem seus talentos nos livros que criamos em conjunto. E bom mesmo, supimpa, é saber que tamanha dedicação por vezes encontra resposta nos leitores, como no caso do trecho do artigo reproduzido no blog da Manati e que reproduzo abaixo. Boa leitura a todos!!! Hakuna Matata!!!



"Existem livros capazes de abordar a questão da negritude preservando
de modo surpreendente a preocupação com a abertura semântica e interpretativa da obra. Neste trabalho, será apresentado apenas um exemplo bastante característico dessa tendência, a saber, o livro Controle remoto (livro 8), escrito por Florentino Alves de Freitas em 2009 e ilustrado por Mariana Massarani. Já o formato diferenciado do livro, bem como a disposição do texto e das ilustrações nas páginas, apontam para uma preocupação estética acentuada. O verdadeiro conflito narrativo – que gera as ações do desenvolvimento – não é o fato de se tratar de uma família de negros (o que é percebido apenas pelas ilustrações), mas sim, o fato de a cegonha ter trazido um bebê acompanhado de um controle remoto: “Só quando a cegonha partiu, o homem e a mulher perceberam que na cesta, além do bebê, da chupeta e das fraldas descartáveis, havia um controle remoto” (p. 5)

A ideia do controle remoto é incorporada organicamente na forma do próprio livro, não apenas pelo seu formato retangular e a textura sólida da capa – que lembra um controle remoto – como também pelos vários detalhes visuais construídos tanto no texto verbal quanto nas ilustrações. Essa construção revela um grande cuidado com o aspecto estético-literário, que acaba se sobrepondo ao aspecto propriamente pedagógico, ligado à diferença/negritude. Cada texto de página termina com uma seta que lembra os comandos de um controle remoto, sendo que a numeração das páginas também está feita com esse recurso da seta. O efeito gerado no leitor é que, para virar a página, seria necessário pressionar a seta, assim como se faz com um controle remoto, o que pode ser considerado um recurso bastante original. Além disso, todas as palavras ligadas ao controle remoto (como stop, help, alarm, etc), quando aparecem no texto, estão sempre destacadas por sombreamento, o que também lembra, de certa forma, a estética visual de aparelhos dependentes de controle remoto, como a televisão ou a tela de computador.

Essa iteração semântica em torno da ideia do controle é um recurso que aumenta muito
a literariedade e o valor estético do texto, pois, além de ser sugestiva, é construída a partir de um diálogo com o próprio texto verbal. Ao longo da narrativa, o leitor descobre que o menino é completamente controlado pelos pais, que só precisam apertar algum botão para conseguirem a respectiva reação: “Pena que, muitas vezes, no melhor da brincadeira, os adultos pressionavam a tecla STOP, que o menino detestava, pois significava PARA TUDO AGORA. Como sempre, ele obedecia ao comando e guardava os brinquedos sem reclamar” (p. 15)

O enredo segue de forma aparentemente repetitiva e redundante, pois a maior parte das ações realizadas são comandos dados pelos pais, a partir do controle remoto, e a respectiva reação da criança, sempre obedecendo a tais comandos: “O controle remoto se tornou indispensável ao casal. Quando eles saíam para trabalhar, era o aparelho que os ajudava a manter o menino comportado e em segurança. Era só ligar a tevê no canal de desenhos animados e apertar o pause que o menino passava o dia no sofá.” (p. 19) Contudo, é exatamente através dessa aparente simplicidade da trama que surge a temática de fundo na narrativa, jamais realmente explicitada, apenas sugerida. Por isso mesmo, pode ser interpretada polissemicamente, de mais de uma maneira, talvez como uma crítica a qualquer comportamento padronizado, uma crítica à concepção pedagógica behaviorista, o elogio da individualidade, a necessidade de desenvolver relações afetivas, entre várias outras.

No final da narrativa, o leitor é surpreendido com um desfecho revestido de humor. Quando o controle remoto passa a não funcionar mais como era de costume, os pais vão pedir auxílio a um “técnico”, que chega à seguinte conclusão: “Logo veio o diagnóstico: — CONTROLERREMOTITE AGUDA. Vocês abusaram no uso do aparelho. Nesses casos, a única solução é jogar o controle fora, começar a ouvir as vontades do menino e conversar com ele.” (p. 37)

Como se percebe, esse livro, assim como alguns outros, dilui a temática da negritude e da diversidade na abertura estética propiciada por qualquer obra construída com fins mais literários do que pedagógicos. Na medida em que essa tendência consegue salvaguardar a preocupação com a literariedade e o valor estético, é capaz de apresentar a questão da negritude a partir de efeitos polissêmicos e autorreferenciais, jamais fechando os sentidos do texto de forma unívoca, baseada em um ensinamento estritamente pedagógico. Nesse sentido, o leitor é convidado a pensar sobre a questão da diferença sem ser coagido por uma visão única e monológica, mesmo que se trate de uma visão politicamente correta. A questão da diferença, portanto, se dilui no estético. Um dos possíveis efeitos sobre o receptor, talvez, seja simplesmente o encantamento característico de toda obra construída para ser fruída esteticamente."

Rosa Maria Hessel Silveira – UFRGS
Edgar Roberto Kirchof – ULBRA
Iara Tatiana Bonin – ULBRA

in: A DIFERENÇA LIGADA À ETNIA EM LIVROS BRASILEIROS PARA CRIANÇAS - ANÁLISE DE TRÊS TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

segunda-feira, 19 de março de 2012

Tino Freitas no Manual da Flipinha 2012

Foi com muita alegria que no final do ano passado recebi o super convite para participar da FLIPINHA em 2012 que acontecerá entre os dias 04 e 07 de julho próximo. Para quem ainda não sabe, a FLIPINHA é parte da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) voltada para o segmento de Literatura Infantil.

Foi com a mesma alegria que, na última sexta, recebi o MANUAL DA FLIPINHA 2012. A publicação é um material de apoio aos professores daquela região "a fim de estimular atividades ligadas à leitura e à criatividade individual". As crianças terão acesso prévio aos nossos livros e isso é muito bom!!!

A cada dupla de páginas, destacam-se os perfis dos 20 autores (escritores e ilustradores) convidados para essa edição em que a festa celebra 10 anos de atividades. Cada um escreveu o seu perfil. A partir da análise dos livros escolhidos, Anna Claudia Ramos e Verônica Lessa (as organizadoras do Manual), resenham as obras e sugerem dinâmicas para a sala de aula.

Gostei muito do resultado e aos poucos mostrarei aqui no blog o que elas sugeriram a partir dos livros Cadê o Juízo do Menino?, Controle Remoto e Quem Quer Brincar Comigo?, destacados para essa edição.

Acompanho a FLIPINHA desde 2009 e sempre achei o manual - produzido a cada ano - um super registro atual sobre o que se tem feito de qualidade em Literatura Infantil. Participar dele muito me orgulha. Mais ainda por estar lado a lado de outros 19 colegas que admiro. Parabéns a toda a equipe da Casa Azul por mais essa realização. Até breve. Hakuna Matata!!!

P.S.1 A seguir, publico o texto que escrevi para o meu perfil no Manual.

P.S.2 Quem quiser ler o manal na íntegra, ele está disponível on line NESTE LINK.

TINO FREITAS

Era uma vez um menino com um pai superlegal que deixou uma conta aberta na banca de revista. Era só escolher o gibi e levar para casa. Foi ali que ele aprendeu a ler a palavra “FIM” e outras tantas palavras em histórias da Turma da Mônica, Disney, Bolinha e Recuta Zero. Ele foi crescendo e descobrindo outras revistas: Heróis da TV, Homem Aranha, X-Man.

Um dia, o menino encontrou na banca um livro que vinha com um disco. Era o primeiro de uma coleção chamada TABA. O livro era Marinho, o Marinheiro, de Joel Rufino dos Santos e no disco, a música Gaivota de Gilberto Gil. Leu e ouviu toda a coleção. Viajou nas histórias, aprendeu as canções. Literatura e música chegaram juntas para semear cultura na cabeça do menino. Apaixonou-se por livros e canções.

Quando se viu homem, o menino já era jornalista (uma forma diferente de contar histórias) e músico. No final do século passado foi morar em Brasília, uma cidade-floresta cheia de cinzas para quem não sabe ver suas cores. É lá que, junto com outros amigos, tornou-se também mediador de leitura, levando a sua paixão pelos livros para outras crianças através do projeto ROEDORES DE LIVROS.

Inspirado na criança que foi e no seu filho sapeca, escreveu o primeiro livro CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (il. Mariana Massarani, Manati) e gostou de brincar de escritor. Hoje, sente-se como um jogador de futebol: trabalha no meio da brincadeira. Em vez de jogar bola, escreve histórias, faz música e shows para crianças de todas as idades.

Se tivesse que indicar um único livro de todos os que já leu para um leitor-criança, escolheria OS BICHOS QUE TIVE, pois adora os livros de Sylvia Orthof, sempre com muita graça e inteligência, duas qualidades que nem sempre andam juntas nos livros para a infância. Esse menino jornalista, músico, mediador de leitura e escritor, sou eu, Tino Freitas. Chego a esta publicação comemorando os 10 anos da FLIP ao mesmo tempo em que festejo meus 40 anos de vida. Um presentão que espero dividir com vocês, leitores. Hakuna Matata!!!

sexta-feira, 2 de março de 2012

O CONTROLE REMOTO - SELO PNBE

Em 2011, meu livro CONTROLE REMOTO (il. Mariana Massarani, Manati) foi selecionado, ao lado de outras 249 obras para compor o acervo do PNBE 2012 (Programa Nacinal Biblioteca da Escola). Ontem à tardinha tive acesso a esta nova impressão. A Manati manteve a qualidade do livro original - e é ótimo pensar que leitores de todo o Brasil terão acesso a essa edição em capa dura, bom papel e uma história super bacana, com as ilustras geniais da Mariana Massarani.

Apenas o selo do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação) na capa (primeira foto) e o recado do Governo Federal na folha de rosto (foto acima) diferem do projeto original. Estou super feliz. Esse foi o meu primeiro livro selecionado para o PNBE. Espero que os mais de 50 mil exemplares cheguem aos leitores e que eles, leitores, possam se divertir com a leitura. Hatuna Matata!!!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Com você, me sinto em casa.

Hoje, visitando alunos do La Salle em Brasília para falar sobre o livro CADÊ O JUÍZO DO MENINO? (il. Mariana Massaranni, Manati), ganhei da pequena Isadora o presente acima. E voltei para casa com um sorriso bobo congelado no rosto. Obrigado. Hakuna Matata!!!

P.S. Para ler o recado, clique na imagem.